fevereiro 11, 2018

Invento-te

Achaste por bem arruinar-me o domingo. Vi-te, senti-te, como naquele beijo fugido. Vejo-te no sonho.Acordo nervoso, cansado. O dia está condenado, o teu rosto vai e vem da frente dos meus olhos. Todo o dia. É no fumo de um cigarro de conforto que vejo o teu sorriso, e me lembro do soneto de Ary dos Santos...

Soneto de Mal Amar

Invento-te recordo-te distorço 
a tua imagem mal e bem amada 
sou apenas a forja em que me forço 
a fazer das palavras tudo ou nada. 

A palavra desejo incendiada 
lambendo a trave mestra do teu corpo 
a palavra ciúme atormentada 
a provar-me que ainda não estou morto. 

E as coisas que eu não disse? Que não digo: 
Meu terraço de ausência  meu castigo
meu pântano de rosas afogadas. 

Por ti me reconheço e contradigo 
chão das palavras mágoa joio e trigo 
apenas por ternura levedadas.




  • Jose Carlos Ary dos Santos