agosto 02, 2017

bodas

as bodas de Caná
de Paolo Veronese



naquele dia faz-se um ritual, não há certezas do futuro. naquele dia ninguém sabe, o casamento é um teste de longa duração, uma vida. uns sobrevivem, outros [muitos] definham e morrem. é no definhar da relação humana que o amor é posto à prova. é nós testes intercalares da relação que se prova e demonstra o verdadeiro amor. sim, não é naquele dia, em que tudo é bom no outro. não. não é.

é fácil, naquele dia, o dizer "... na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, amando-te...". é só o toque de partida, sempre numa vida é difícil. aqui não há atalhos.

e será o amor isso mesmo? dar ao outro tudo, sem nos anularmos. perdoar e abdicar. será? ver no outro nós próprios. amar não é só sexo, ou o riso cúmplice quando ambos se reconhecem no outro. amar é resiliência. é estar sempre lá, mesmo quando não queremos. mais adiante, é um olhar, um dar a mão, dizendo presente.

poucos o conseguem, cada vez menos, a maioria nunca provou o verdadeiro amor.

estes aqui sentados não sei...

[...]

a sala do banquete mantém a decoração da época, paredes, tectos e chão, velho mas bonito, elegante. estes palacetes do século XVIII, ainda cheiram a duquesas e marqueses, a intriga, a amores proibidos, a ócio.  entre os convivas andam descendentes de alguns. inócuos como seres vivos, na sua maioria. as senhoras falam, vazias, da última loja da avenida, e daquela semana de férias em Miami, eles conspiram ao fundo, misturados no fumo dos charutos e do cheiro do armagnac, que roçava a divindade. salva-se a alegria das crianças em correria constante da mesa aos bonitos jardins do palacete. era capaz de jurar que vi a mais inocente troca de beijos atrás de uma acácia branca... o catering era de um famoso chefe, mas o meu contragosto esvaziou-me o paladar.

difícil foi voltar a caber dentro da aba de grilo, amarrado, sem respirar, sobraram-me apenas as pontas dos dedos e a imaginação.

não obstante, a farda assentou lindamente naqueles passos mágicos do tango.



2 comentários:

  1. ...Miguel a frase do cabeçalho assenta que nem uma luva à vivência a dois.

    Permite[me] esta pequeníssima minha história:
    18 anos de matrimónio realizados no início desta semana, fizemos festa, sim porque nos dias de hoje é uma bênção!Não sou perfeita, já magoei, já falhei , mas o Amor é isso mesmo perdoar e reconhecer no outro essa grandeza. Alguém me disse estas palavras: vale a pena investires no teu casamento. Hoje sou um mais feliz do que ontem nesta minha/nossa imperfeição!

    [pedindo desculpa pelo atrevimento desta missiva]

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    1. :))) o que disse está dito
      e tu bem o percebeste.

      és então um dos felizardos do verdadeiro amor ;)

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