junho 30, 2020

que

ainda ébrio
dois dias passados
o sabor e cheiro da tua
[libido]
nas narinas, na língua,
na cabeça,
está dentro
[da minha pele]
os poros libertam
e lembram
que estás cá

que o desejo não morra
que as palavras te façam imortal
que aquela estrela seja morada eterna
[tua]
o teu ventre almofada celeste à minha cabeça cansada

agora vou chorar


diogo zagallo miguez

junho 25, 2020

mar ciado


dei por mim a amar as palavras que não escreveste. que bom seria ler-te. ou ver-te. dares ao mundo um pouco do que sei que transportas na tua alma. acho-te egoísta, só para ti...
será que ainda abraças o mar, e com ele costuras os mais belos vestidos?
confesso!
cheguei a ter ciúmes do mar.
nem tão pouco olhaste alguma vez para mim, como eu te vi a olhar para ele.
a batalha é desigual.

junho 18, 2020

blogger

amiúde o tema reaparece, porque escrevemos em blogs, questionam uns, são desabafos, perguntam outros.

estou convencido que por cliques não é, pelos menos a maioria de nós. necessidade de desabafar, no meu caso não é. os desabafos são de outros locais, são meus.

apesar da evidente intermitência, e da insanidade latente, uso o meu espaço para lá deixar farrapos de histórias ou de notas, tinta também ela espalhada em pequenos caderninhos.

no meu caso, não há melhor resposta que as palavras daquela Isabel que admiro e me delícia , presente no subtítulo deste espaço: há um lugar forrado a seda que ampara as palavras que nos apetece dizer e os sorrisos que deixamos cair.


mas pergunto, será um pouco de vaidade intelectual ou estética? às vezes, não sempre?


folha em branco
ou
infinito de histórias

junho 12, 2020

deixado para morrer

deu por si a respirar. não se mostrou feliz por isso. pouco lhe importa se está vivo ou morto. que Deus faça o que por bem entender. descobriu a sua mísera condição animal, nasce, come, procria, morre. pensou que as palavras escritas o tornariam de condição diferente, porque essas perduram, vão além da condição mísera.

ainda lá está, todos os dias.

ali. deixado para morrer.



the weight
by
Jack Vettriano


junho 06, 2020

a caneta ainda continua a pingar desafinada. há momentos em que juro ouvir o impacto da tinta. agora estou cansado. há teclas gastas, e um acervo de letras, que honestos sejamos não verão impressora. cheira a papel. a serenidade voltou. cheira a álcool velho, a tabaco. dias há que cheira a mulheres, a cabelos negros, a crianças, a amor, luxúria, e bondade.
há.