the lovers II, 1928,
by Rene Magritte
Peço desculpa de ir buscar tinta antiga, rabiscada e gasta. São dezenas de cadernos, desde 1998. Muitos textos, personagens e ideias, faziam sentido à luz do seu tempo. Guardo todos e tudo, são meus, sou eu.
Hoje temos blogs, pese embora eu continue a não dispensar o aparo, a tinta e o papel.
Achei curioso que depois de ler este pequeno texto lembrar-me de um que li sobre abraços. Faz quase um ano, e o texto da Laura Avelar Ferreira ficou sempre aqui, latente no meu arquivo biológico. Melhor assim, fica aqui guardado.
Saudade dos braços
Gosto.
Pele com pele
O sussurro: aperta-me
Cheiro com cheiro
Aqui, agora
Onde quiseres, sempre
Tenho saudades
Não digas nada
Tu já não dizes
Amarra-me
Amarra-me
Ainda sinto os teus braços
Às vezes, de quando em quando.
[Abril 2007]
Abraçam-se entre intermitências.
Às vezes ela repele-o porque às vezes ela arreda-se de tudo.
Quer ficar em branco. Precisa de sentir o não sentir e lançar-se no vazio das formas e do todo.
Ele procura-a amíude. Entre cigarros apagados a meio e papéis com contas em atraso.
Às vezes saem para tomar um copo. Ela de vestido comprido a lamber a calçada húmida. Ele de calças largas e cabelos em desalinho.
Sentam-se numa esplanada improvisada, fora da casa que não é deles e ficam ali a inverter horas.
Quando regressam a casa, embriagados, abraçam-se mais. Em sítios pouco próprios, em sítios pouco usuais, em sítios que não conhecem, em sítios que se tornam sítios, no topo é do álcool e do desejo assumido.
Amam-se assim: intermitentemente, com álcool e abraços.
Laura Avelar Ferreira
Um texto maravilhoso de facto :)
ResponderEliminarÉ verdade andou sempre aqui guardado na cabeça, mas pelo sim pelo não é melhor guardá-lo aqui
Eliminar:)
Miguel, fica bem tudo aqui, este texto: imagem, palavras, gentes.
ResponderEliminarmuito muito obrigada.
e um xi coração.
Ora obrigado eu, pelas tuas palavras ficarem aqui guardadas na minha cabeça. Certamente de forma escondida, mas latente no íntimo :)
EliminarBeijinhos
Caramba, agora fizeram-me apetecer um abraço desses... coisa imperdoável... ;)
ResponderEliminarLindos os textos, abraçados ficaram ainda melhor :)
Provavelmente uma das melhores manifestações do ser humano: abraço. Amoroso ou de amizade.
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